sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Bolsa cai quase 5% com temor de recessão global

By Olivia Alonso  
Bolsa perde 7% na semana e dólar fecha a R$ 1,90; na Europa, bolsas caem 5% e têm pior dia em dois anos, nos EUA, quedas são de 3%
  A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em forte queda de quase 5% nesta quinta-feira, em que o temor de uma recessão global provocou perdas em mercados de ações em todo o mundo. O clima negativo foi alimentado pelo pacote de estímulo à economia norte-americana anunciado ontem pelo banco central dos EUA, que não trouxe nenhuma novidade além do que já era esperado.
  O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, caiu 4,83%, cotado em 53.280 pontos. Nenhuma ação do índice teve ganhos. Foi a maior queda desde 8 de agosto desde ano, quando o índice desabou 8,08%.
  Na semana, o Ibovespa acumula uma queda de 6,9% até o fechamento desta quinta-feira. Entre as maiores baixas do dia, TAM perdeu 8,78% e Marfrig caiu 8,84%. Entre os ativos de maior peso sobre o
Ibovespa, a Petrobras caiu 5,33%, a Vale perdeu 4,30% e a OGX Petróleo teve desvalorização de 6,61%. Ontem, o índice perdeu 0,7% e fechou o dia em 53.141 pontos.
  As preocupações com as economias europeias - sobretudo com a Grécia - e o enfraquecimento da recuperação norte-americana estão deixando os investidores mais cautelosos.
  "Há um movimento muito arredio no mercado de ações. Os investidores ainda lembram a crise de 2008, e em um momento de tensão como o atual, preferem ser mais técnicos e evitar arriscar a sorte. Assim, assumem um comportamento 'mais assustado' e tendem a adotar mais cautela no mercado," avalia Marcos Heringer, professor de finanças do Ibmec.
  Além disso, a falta de uma ação conjunta forte na Europa contribui para o clima de tensão. "A fraqueza política dos governos europeus fica cada vez mais evidente, o que impossibilita solução conjunta para a crise dos países com problemas fiscais," comentam os analistas da Lerosa Investimentos.
Riscos de piora nos EUA
Nos Estados Unidos, o Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed) afirmou ontem que planeja comprar até o fim de 2012 cerca de US$ 400 bilhões em títulos da dívida do Tesouro de longo prazo, com vencimento entre seis e 30 anos. Em troca, a autoridade monetária pretende vender o mesmo valor em títulos de curto prazo (de até três anos).
Mas os mercados deram pouca atenção ao pacote e ficaram mais atentos à afirmação do Fed de que que existem riscos "significativos de baixa" para a economia norte-americana.
David Darst, chefe de investimento estratégico do Morgan Stanley, diz que a reação do mercado ao Fed foi muito ruim e revela que, na verdade, os agentes querem uma reforma estrutural no país. “As pessoas resolveram ignorar o pacote de estímulo e focar as atenções na mensagem de que os riscos de piora da economia são significativos. A volatilidade subiu muito, e apenas cinco ações do S&P 500 subiam nesta manhã,” afirma.
Nos EUA, além do S&P, os índices Nasdaq e Dow Jones fecharam em forte queda. O índice Dow Jones caiu 3,51%, o Nasdaq recuou 3,25% e o S&P 500 desvalorizou 3,19%. Com a perda de hoje, o Dow Jones caminha para sua pior semana em quase três anos.
Nesta quinta, o setor financeiro também tem destaque. Ontem, a Moody's cortou a nota de três dos principais bancos americanos - Bank of America (BofA), Wells Fargo e Citigroup - e a Standard & Poor's rebaixou as notas de instituições financeiras italianas, como Intesa Sanpaolo e Mediobanca.
Para agravar o quadro, o dado preliminar sobre a atividade manufatureira na China (o PMI, na sigla em inglês) caiu em setembro, indicando que o crescimento na segunda maior economia do mundo continua a desacelerar.
Europa tem pior dia em 2 anos
Na zona do euro, as encomendas à indústria ainda caíram 2,1% em julho na comparação com junho. O dado de encomendas, divulgado pela Eurostat, é uma espécie de indicador antecedente da atividade industrial, já que dá uma ideia do nível dos negócios que virão.
As principais bolsas de valores da região tiveram com fortes quedas, mesmo comportamento das bolsas da Ásia.
O índice europeu de ações Euro Stoxx 50 perdeu 4,90% nesta quinta-feira, enquanto o FTSE de Londres caiu 4,67%, o CAC de Paris perdeu 5,25%, o DAX de Frankfurt teve desvalorização de 4,96%. Em Madri, o Ibex 35 teve queda de 4,62% e, em Milão, o FTSE MIB caiu 4,52%. Foi o pior dia das bolsas europeias em dois anos e dois meses.
Dólar a R$ 1,90 e ação do BC
O clima de aversão pelo risco continua provocando fortes oscilações também no mercado cambial em todo o mundo. O dólar abriu em disparada contra o real nesta quinta-feira, ampliando a já acentuada valorização da véspera.
No entanto, depois de chegar a bater R$ 1,95, a moeda passou a cair no início desta tarde. Às 13h59, perdia 0,64%, cotado em R$ 1,846. A virada aconteceu horas após o Banco Central ter anunciado uma intervenção por meio de uma operação chamada “swap cambial reverso”, em que vende dólares ao mercado, pressionando a moeda para baixo. A operação - que não acontecia desde junho de 2009 - foi equivalente a US$ 2,716 bilhões.
“O BC avisou o mercado que está atento a essa alta do dólar e sinalizou que acredita ser um movimento de curto prazo,” comenta Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora.
Horas depois, entretanto, o dólar voltou a subir. Perto de 16h59, a moeda avançava 2,23%, cotada em R$ 1,90.
Para Heringer, do Ibmec, o recuo do dólar no início desta tarde não se sustentou porque as forças que contribuem para a valorização da moeda norte-americana continuam. "A operação do Banco Central foi um fato isolado e não muda o cenário global de crise europeia." Ele acrescenta que o dólar dificilmente deixará de ser uam referência e que, por isso, deverá continuar a ser procurado pelo mercado em momentos de tensão e incertezas.
Cardoso acrescenta que a alta do dólar nos útlimos dias e no mercado internacional mostra um estresse no mercado, reflexo de um cenário conturbado. “Investidores estrangeiros estão zerando posições em reais. Depois de investirem aqui e ganharem tanto com os juros brasileiros, como com a valorização do real nos últimos meses, agora estão perdendo a vantagem cambial,” afirma.
Fernando Bergallo, gerente de cambio simplificado da TOV Corretora, acrescenta que a troca de posições vendidas - que ganham com a baixa do dólar - por posições compradas - que ganham com a alta do dólar – continua acontecendo. Ele afirma que há um movimento de retirada de dólares do país por investidores estrangeiros, que preferem sacar o que possuem no Brasil para compensar perdas no exterior e não terem que realizar prejuízos lá fora.
"Há um mês, tinhamos US$ 14 bilhões em posições vendidas. Hoje, o saldo é de US$ 1,5 bilhão de posições compradas," afirma Bergallo, citando dados da BM&FBovespa.
Colaborou Ilton Caldeira, iG São Paulo

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